
Miriam Bevilacqua
Literatura, Comunicação,Educação
O INFERNO É AQUI

Que calor é esse??
Faz dias que os meteorologistas prometem que virá uma frente fria e esse calorão, finalmente, dará uma trégua. E nós, esperançosos, ficamos esperando esse calor pegar sua mala e se mudar para outro hemisfério. Mas não é o que acontece. A tal frente fria sempre é prorrogada para depois e o forno parece cada vez mais quente.
Sempre adorei calor. Nesses anos todos, fiz inúmeras crônicas para reclamar do frio, mas essa é a primeira para reclamar do calor. Calor demais me deixa mole, sem vontade para levantar da cadeira e ainda por cima, durmo mal.
Nunca usei tanto protetor solar nessa vida. Já acabei com dois tubos grandes e não sei se apenas um terceiro será suficiente até o final do mês. Mesmo bebendo tanta água ao longo do dia, que até um camelo depois de um mês de seca no deserto ficaria surpreso, parece que nunca é o bastante.
Os cientistas repetem que nos avisaram. Sim, eles vêm nos avisando há anos, mas a gente sempre acha, antes de acontecer, que é um pouco de exagero para nos assustar. Tenho que admitir: eles estavam certos e nós, cidadãos comuns, ignorantes, completamente equivocados.
O pior não é apenas conviver com esse calor esse ano, mas saber que os próximos verões serão piores. Os mesmos cientistas nos lembram de que teremos saudade do calor de 2024 e 2025, os mais frios dos próximos anos.
No futuro, além de termos ar condicionado pela casa toda para aguentar o verão, assim como os europeus tem a calefação para aguentar o inverno, eu me pergunto: o que mais mudará em nosso modo de vida? Com certeza, vaporizadores e borrifadores de água vão ter de ser encontrados nas ruas para as pessoas se refrescarem, e alguns locais do planeta simplesmente vão ter de serem abandonados devido à desertificação.
É um novo mundo. Mais seco, mais árido, absurdamente mais quente. E não adiantar reclamar. É só mais um gasto de energia que nos fará suar. Até para escrever essa crônica me deu calor. O que importa agora é obedecer a cada ordem da ciência para tentarmos não ultrapassar o ponto de não reversão e acabarmos de vez com nosso querido planeta.
Desgraças à parte, talvez seja a hora certa para realizar meu sonho de infância e abrir uma fábrica de sorvete. Seria minha parcela de ajuda para a humanidade. Afinal, se a vida te der um limão, faça uma limonada, de preferência, bem gelada.
SP 11/03/2025