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O PRIMO BASÍLIO

          Muita gente pensa na obra do escritor português Eça de Queiroz como algo antigo, fora de moda, o que é uma enorme bobagem. Eça de Queiroz sempre me lembra Machado de Assis que, aliás, foram contemporâneos. Ambos são imortais e influenciaram inúmeros escritores que vieram depois deles e continuam influenciando.

         Quer um exemplo? Veja aqui no canal o vídeo sobre o livro A Relíquia de Eça e depois O Evangelho Segundo Jesus Cristo de Saramago e perceba como o primeiro foi uma referência determinante para o segundo.

        Hoje nós vamos falar de um dos romances mais conhecidos do escritor, O Primo Basílio. Fique até o fim do vídeo para ter uma visão completa da obra, e também para ir entendendo sempre um pouco mais das marcas que se sobressaem em sua narrativa.

       Eça de Queiroz nasceu na cidade de Póvoa do Varzim em Portugal em 1845. Era filho ilegítimo e só aos dez anos conheceu seus pais. Esse fato vai marcar não apenas a vida do escritor, mas também sua obra. Seus romances vão ser sempre minuciosos na criação do quadro familiar.

       O Primo Basílio conta a história de Luísa, uma moça comum, casada com Jorge, um engenheiro de minas. O casamento dos dois tinha três anos e era tranquilo sem grandes arroubos, principalmente porque Jorge tinha um gênio tranquilo e Luisa tinha se tornado uma boa dona de casa, como deviam ser as mulheres daquela época. Tudo transcorria normalmente, até que Jorge teve de viajar a trabalho e o primo de Luísa, chamado Basílio chegou a Lisboa e foi visitar a prima.

Desde a primeira visita, fica claro que Basilio quer retomar um romance com Luisa, pois eles haviam sido namorados na adolescência. E o fato do marido estar fora da cidade é um elemento que só favorece os seus planos. Lembra do ditado? A ocasião faz o ladrão.

          Agora é impossível não fazer a relação de Luisa com outra personagem famosa da literatura, Madame Bovary. Tanto Luisa como Ema Bovary ficavam lendo muitos romances onde havia aventura, desejo, amores praticamente impossíveis enquanto elas mesmas viviam um casamento absolutamente comum. E como todo casamento comum, ou a grande maioria deles, o dia a dia não tem assim grandes novidades. Mas as personagens sonhavam com essa vida glamourosa que elas não tinham.

          Vamos lembrar que isso não é uma coincidência. Madame Bovary foi publicado em 1856 e o Primo Basílio em 1878 e Eça de Queiroz claramente foi influenciado pela literatura de Flaubert. A literatura mundial estava vivendo o período realista. Então as relações amorosas não eram mais como no romantismo. No romantismo, o casal vivia as agruras para ficar junto e quando conseguiam, a história acabava. O tal do Foram felizes para sempre. Mas no realismo, o casal normalmente já está junto vivendo em um casamento que não é assim um conto de fadas.

          Essa é uma marca do realismo. Levar para a literatura o que de fato acontecia, o que de fato era real. E os escritores estavam preocupados também em mostrar como a vida burguesa do final do século XIX era repleta de falsos moralismos. Assim, enquanto aparentemente as famílias viviam em total harmonia, na intimidade havia vários “pecados” bem escondidos e uma grande insatisfação, principalmente das mulheres.

          Por isso que na literatura dessa época aparecem tantas personagens adúlteras. O adultério que sempre aconteceu, mas não podia ser explorado pela literatura do romantismo, passa a ser revelado no realismo.

          Como já era de se esperar, Luisa vai trair o marido com o primo em busca desse amor dos romances e obviamente também vai perceber que mesmo o adultério depois de um tempo, não tem mais nada de glamouroso. Até a casinha onde o casal se encontrava e que no início apelidaram de Paraíso, não passava de um quartinho pobre sem qualquer glamour.

       Essa ironia fina, juntamente com ousadia e sarcasmo vão ser recursos que Eça vai usar constantemente no Primo Basílio e, praticamente, em toda sua obra.

        Gosto muito do trecho em que Luisa pensa em sua relação com Basilio com um certo enfado e se pergunta o que está acontecendo: “ É que o amor é essencialmente perecível, e na hora em que nasce começa a morrer. Só os começos são bons! Há então um delírio, um entusiasmo, um bocadinho do céu. Mas depois!...Seria pois necessário estar sempre a começar, para poder sempre sentir?

        Há, além da trama principal, alguns personagens importantes para compor o quadro realista. Luisa tem uma amiga chamada Leopoldina que não é bem vista pela sociedade da época e que Jorge não quer nem que Leopoldina frequente a casa deles porque ela tinha tido muitos amantes. O que na época era uma questão de total desonra para as mulheres, mas tem um momento no livro em que Luisa se pergunta se não é esse eterno começo dos romances que Leopoldina está sempre procurando.

         Outro personagem fundamental é a empregada Juliana que trabalha na casa como arrumadeira e que tem muita inveja de não ter todos aqueles bens materiais. Juliana vai descobrir a traição da patroa e vai chantageá-la. Para silenciá-la, Luisa lhe dá muitos presentes e começa até a fazer o serviço de casa em seu lugar. Mais uma vez é o sarcasmo do escritor que faz essa inversão de papéis.

      E, por fim, um amigo da família, o Conselheiro Acácio, em que o escritor faz a crítica  do academicismo, que tantas vezes, apesar de tão reverenciado pela sociedade, pode ser absolutamente vazio e transforma o personagem quase em uma caricatura.

       É um livro fundamental para você entender tanto o que acontecia na literatura daquela época, como também entender as mudanças da sociedade não apenas lisboeta, mas mundial.

Vídeo-resenha

 

FICHA TÉCNICA

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