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              POESIA DE MANOEL DE BARROS

 

          O poeta mato-grossense Manoel de Barros demorou muitos anos para ser descoberto pelo Brasil. Somente no final da década de 80, quando ele já tinha  cerca de 70  anos, o jornalista Millor Fernandes publicou um poema seu, apresentando-o para o mundo. A partir daí, a fama veio rápido porque Manoel tem uma das mais bonitas obras poéticas do Brasil.

      Durante toda sua vida, ele escrevia poemas e depois os reunia em pequenos bloquinhos feitos por ele mesmo ou por amigos, em pequenas tiragens em torno de vinte exemplares. E, na maior parte, era ele mesmo que pagava por essas publicações.Só foi ser publicado por uma grande editora após a fama propiciada por Millor Fernandes.

          Herdou de seu pai a fazenda Santa Cruz, no Pantanal. Trabalhou nessa fazenda por dez anos, até que ela começasse a ser produtiva e lhe desse dinheiro para que ele pudesse fazer poesia. Ficar à disposição da poesia. Dizia que havia comprado o ócio e havia se tornado um vagabundo profissional. E que a poesia é a arte do inútil. Além de também reafirmar que o ser inútil não serve para mais nada, a não ser para fazer poesia.

          Sua fonte de inspiração era a infância. Ele dizia que tinha um bauzinho onde ficavam guardadas suas primeiras impressões sobre tudo e era nesse baú que ele ia buscar material para escrever.

         Sua poesia era de coisas simples, a maioria delas ligadas à natureza. Mas também de coisas imprestáveis. Nasceu e foi criado no Pantanal. Entretanto, ele dizia. “Não sou poeta de Paisagem. Sou poeta da palavra. Eu invento o meu Pantanal.” O que isso quer dizer? Quer dizer que ele não vai falar de um Pantanal que a maioria das pessoas enxerga. Vai deitar um olhar sobre o Pantanal que é só seu. A ponto de, muitas vezes, parecer até surrealista.

          A palavra em Manoel de Barros é extremamente trabalhada. Ele não acreditava em inspiração. Escrever poesia para ele era um ofício de artesão, que tinha de trabalhar duramente o belo. Além disso, ele, como Guimarães Rosa, da mesma geração de 45, gostava de criar palavras, os famosos neologismos. E também inventava imagens como, por exemplo: "a formiga ajoelhada na pedra" ou "quero passar a mão na bunda do vento"

          Outra característica de sua obra poética é a humanização das coisas, dar a elas características humanas e também o contrário, a coisificação do humano.

         É muito difícil escolher um poema mais belo entre toda sua obra, mas acredito que Matéria de Poesia é aquela que melhor explica esse apreço do poeta pelas coisas pequenas. As primeiras estrofes dizem assim:

Todas as coisas cujos valores podem ser

disputados no cuspe à distância

servem para poesia

Um homem que possui um pente

e uma árvore

serve para a poesia

Terreno de 10x20, sujo de mato – os que

nele gorjeiam: detritos semoventes, latas

servem para poesia....

     Essa é a riqueza da obra de Manoel de Barros. Sempre mostrando que qualquer coisa, por mais insignificante que seja, pode ser poetizada.

Vídeo-resenha

FICHA TÉCNICA

Título Original – Manoel de Barros/Poesia Completa

Edição Original – 2013

Edição utilizada nessa resenha – 2013

Editora Leya – São Paulo

Número de Páginas - 478

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