Miriam Bevilacqua
Literatura, Comunicação,Educação
PRAZO DE VALIDADE
Tenho uma relação de amor e ódio com essa coisa chamada Prazo de Validade.
Quando eu era criança, nada tinha prazo de validade. Então como é que nós sabíamos se podíamos ou não comer ou beber algo? Fácil! Minha mãe mandava:
- Cheira pra ver se está bom.
O meu nariz estipulava o prazo da validade e pronto. De vez em quando, o nariz era facilmente enganado, mas a boca, muito mais esperta, cuspia longe. Mesmo assim devo ter comido e bebido muita coisa que talvez não devesse ou que talvez, hoje em dia, estivesse completamente fora do prazo de validade.
Imagine jogar fora uma bolacha recheada deliciosa só porque estava um pouco murcha ou um chocolate esbranquiçado!! - Come. Não morre não! – todos incentivavam. E o fato é que nem eu e nem ninguém morreu.
Calma! Não sou terraplanista. Claro que sei que os produtos terem prazo de validade é um direito do consumidor e evita que muita gente consuma produtos estragados. Mas, vamos combinar, dá um trabalho danado.
Se, no supermercado, gasto dez segundos em cada produto olhando a data de validade, em uma compra de cinquenta produtos, isso é tempo demais. O que só piora quando me esqueço de levar meus óculos de enxergar de perto. As letras não são mais miúdas porque Deus não deixa, com dó de ceguinhos como eu. E aquelas validades que vêm gravadas no plástico transparente sem qualquer tinta?? Duas horas para encontrar e mais duas para conseguir ler.
Atire a primeira pedra quem nunca, mesmo com o prazo de validade gritando, comeu algo além do tempo previsto. O contrário também acontece. Nesse final de semana, comprei um pão sueco que, provavelmente, veio da Suécia em cima de uma mulinha manca. Mas, apesar do gosto de coisa velha, a validade dizia que a mulinha podia chegar até dezembro.
Decididamente prazos de validade não precisam ser assim tão rígidos. A obrigatoriedade do prazo de validade surgiu no Brasil na década de 80 e quem determina é a empresa fabricante que, por segurança, pode colocar um prazo muito menor do que o necessário ou até mesmo para poder vender mais. Imagine o tanto de gente que joga fora sem nem cheirar ou experimentar como mandava minha mãe. Passou um dia? Lixo. Sou pão- dura demais para isso!
Sigo prazos de validade, mais ou menos como decido se levo ou não guarda-chuva, olhando para o céu. Se for algo que gosto muito, dilato um pouquinho. Se não gosto, lixo direto. Se for um remédio, às onze da noite, para uma dor de cabeça terrível, tomo o tal comprimido sem pestanejar. Nunca passei mal, só engordei.
Prazos de validade ignorados me fazem sentir um pouco culpada, mas, devo confessar, a culpa dura bem pouco.
São Paulo, 15/09/2020