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       PRESENTE DE MAGO 

          O que vale uma crônica?

          Muitas vezes nada. Exato. Muitas vezes escrevo sobre o nada.

      Nem todos os dias são de Reis. Não há nenhuma estrela cadente indicando o caminho. Sigo no escuro, dando topadas em pedras, escorregando, mas finjo que sei exatamente onde quero chegar. Engano o pobre leitor que espera por mirra, incenso ou algo parecido. Tem até alguns que acham que podem ganhar ouro. Eu sei. É triste. Mesmo em milhares de anos, tem leitor que não aprende.

         À medida que avanço, tento ser convincente, é preciso chegar a Belém ou a qualquer lugar. Ensaio um canto pra Lua, coloco roupas de festa e até um adorno na cabeça. Tudo para disfarçar minha falta de assunto. Sei que é dia de dar presente, mas a crise está feia. Faltam até letras.

      Talvez possa dizer um elogio. Não me custa nada e isso sempre funciona. Além de tudo, leitor é um ser carente. Ensaio um sorriso bondoso e chamo-o de mago. Não funciona. Leitor de internet não sabe que mago também é sinônimo de sábio, estudioso entre os antigos. Não poderia ter escolhido elogio mais inútil.

          A noite cai e faz frio em pleno verão. Clima de deserto. Procuro um abrigo, mas manjedouras em pleno século XXI, não estão dando sopa por aí.

     O cruel Herodes ri da minha desgraça. Se fosse um recém nascido talvez quisesse me matar, mas um cronista adulta que não sabe nem como terminar essa crônica não apresenta qualquer perigo. Dá até pena.

          Ouço um choro...mas já? Tem leitor realmente difícil de agradar, o ano nem bem começou e já está reclamando. Depois desapareço por dois mil anos e não adianta ficar me procurando em sites de escrituras nem um pouco sagradas.

          Sei que o dia é de Reis e não tem nada a ver com os desejos das fadas da Bela Adormecida, mas se não tenho nada palpável a oferecer, vou ter de misturar as histórias e lhe desejar um surpreendente 2021. Mas cuidado para não furar o dedo por aí. Desejo que apenas seu braço seja furado com a tal vacina da felicidade. Ah, em duas doses!!

 

                        São Sebastião, 06 de janeiro de 2021.

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