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         PÁTRIA AMADA

         Naquele dia, Pedro acordou de mau-humor, com dor nas costas. Havia dormido mal e não aguentava mais ficar em cima de um cavalo ou de uma mula. Além disso, seu intestino não lhe dava sossego. Só conseguia pensar na maldita hora que havia saído do Rio de Janeiro para ir apaziguar os ânimos na Província de São Paulo.

           Foram 19 dias a caminho, no meio da mata. A parada na fazenda Pau D’Alho tinha sido divertida. Pedro havia apostado corrida com sua comitiva e como chegou antes à fazenda, ninguém lhe reconheceu. Ao pedir por comida, a dona da fazenda o levou para a cozinha para comer com as escravas e mucamas, o que acabou por divertir Pedro que só desfez o mal entendido quando sua comitiva chegou.

          Mas isso tinha sido nos primeiros dias, agora estava cansado. Os mosquitos estavam lhe tirando a paciência. “Algum dia, terei de construir uma estrada aqui para ligar essas terras”, Pedro pensava. “Ou talvez não. Talvez o melhor mesmo fosse voltar pra Portugal e ficar com minha família, como todos no reino estão ordenando. Por que só eu tive de ficar aqui, nesse fim de mundo?”

         Esses e outros pensamentos ocupavam a mente do jovem Pedro. Também estava preocupado. Leopoldina andava com umas ideias muito modernas para uma mulher. Insistia com ele que um país enorme não podia ficar a mercê de um reino tão pequeno como de Portugal. Ela não entendia. Afinal, para ela era fácil, ele era o filho do rei e não ela. Mulheres!!

          Mal sabia Pedro que sua esposa, quando recebeu a carta da Corte ordenando a volta a Portugal, ela mesma, no dia 02 de setembro, assinou uma declaração de independência. Leopoldina levava muito a serio seu papel. Quando Pedro viajava, ela se tornava a regente.

            Inocente dos fatos e cada vez mais mal-humorado, Pedro começou a sentir novamente aquela dor de barriga. Estavam perto do riacho do Ipiranga e era melhor parar e se aliviar. Nem o chá de folha de goiabeira tinha dado resultado. Foi quando chegou o mensageiro com a carta da Corte lhe destituindo do cargo de regente do Brasil.

        Foi demais! Dor nas costas, mosquitos, mata fechada, dor de barriga... e ainda seu pai lhe enchendo a paciência.

       Leopoldina lhe enviava também a declaração prontinha, só para assinar. Era melhor não discutir com sua mulher. Pedro só desejava mesmo um bom banheiro. Respirou fundo e ergueu a maldita espada:

“Independência ou Morte!”

                                                           São Paulo, 07/09/2020

*Nota da autora: Por mais incrível que pareça,“quase” todos os fatos são verdadeiros.

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