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            SERVIDÃO HUMANA                        

           William Somerset Maugham é um dos principais escritores do século XX, mas sempre houve um pouco de preconceito em relação a ele porque, ao mesmo tempo que ele escreveu romances de altíssimo nível, também fez vários trabalhos para Hollywood, o que é visto com certo desdém pela literatura. Ele próprio costumava dizer que era um dos melhores, mas da segunda linha, o que não é verdade.

          Apesar de ter nascido em Paris, sua família era inglesa, seu pai trabalhava na embaixada na França e ele é tido como um escritor inglês, já que vai morar na Inglaterra a maior parte de sua vida e também porque escrevia na língua inglesa.

Maugham ficou conhecido não apenas como romancista, mas também como dramaturgo, chegando a ter quatro peças em cartaz em Londres, simultaneamente.

          Um fato curioso a respeito do escritor é que, por falar francês e inglês, Maughan também se torna espião do serviço secreto inglês, experiência que vai inspirar alguns de seus contos.

         Autor de vários livros, três se destacam em sua obra: Servidão Humana, o Fio da Navalha e Um gosto e seis vinténs. Para entender a obra de Maugham é preciso ler os três que vão dar um bom painel de sua escrita.

           Servidão Humana é considerada a obra-prima de Somerset Maugham e foi publicada no comecinho do século XX, em 1915. Conta a história de Philip, desde a morte de seus pais quando ainda era criança, e foca, principalmente, na solidão do personagem ao longo de toda vida.

          São muitas as coincidências entre o personagem Philip e o seu criador, o autor Somerset Maugham. Tanto Philip quanto Maugham ficaram órfãos na infância e foram tirados de suas casas e enviados para serem criados por um tio, no interior da Inglaterra. Enquanto Maugham era vítima de uma gagueira, seu personagem tinha um pé torto que o impedia de correr ou jogar bola. Ambos fizeram medicina e passaram um tempo estudando na Alemanha. Então podemos sempre ter em mente que Servidão Humana, em muitos aspectos, é um romance quase autobiográfico.

         No livro, Philip vai sofrer grande rejeição dos colegas de escola, em virtude de seu problema físico, o que o faz se isolar desde cedo. Além disso, o tio de Philip, que vai criá-lo depois da morte de seus pais, era um vigário e a religião vai estar fortemente presente em sua infância e adolescência, através de uma educação fria, sem carinho e que pune por qualquer coisa.

          Ainda jovem, Philip se apaixona doentiamente por Mildred, uma moça pobre e interesseira que só suporta Philip porque como ele tem algumas posses, consegue dar a ela algum conforto. Philip faz enormes sacrifícios por esse amor, mas nunca recebe dele a felicidade que ele tanto almeja. Ele chega a seu humilhar, sabendo que está sendo humilhado e mesmo assim, não consegue se desvencilhar dessa paixão.

      Mais uma vez, a semelhança da vida do autor com a do personagem é impressionante, pois o próprio Maugham chegou a declarar: "Principalmente amei pessoas que não se preocupavam ou faziam pouco de mim.”

      Muitas das histórias de Maugham foram retiradas de suas experiências, principalmente da época que exerceu medicina em um hospital pobre e viu muitos dramas que lhe inspiraram. Cremos que a principal característica do escritor é a sua capacidade de filosofar sobre o ser humano, sobre a crueldade da vida para os mais pobres e, principalmente, a impotência do homem frente à vida, como se nada que o homem pudesse fazer fosse o suficiente para tornar a vida menos vulgar.

        Apesar desse pessimismo, há sempre algum tipo de conforto para os seus personagens, talvez não exatamente o que eles desejassem, mas o que é possível.

         Servidão Humana traz também uma das principais marcas da escrita de Maughan, que é como o autor constrói seus protagonistas. O personagem de Philip é uma verdadeira aula de literatura.

Vídeo-resenha: https://www.youtube.com/watch?v=2fgjpnwHPs0

FICHA TÉCNICA

Título Original – Of Human Bondage

Edição Original – 1915

Edição utilizada nessa resenha: 1982

Editora: Abril - São Paulo

Páginas: 561

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