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         UM AMOR INCÔMODO

        A autora italiana Elena Ferrante ficou muito conhecida pela sua série napolitana, quatro livros que contam a história de duas amigas em Nápoles, na Itália de pós-guerra.

          A escritora nunca apareceu em público. Suas poucas entrevistas são sempre por escrito e através de seus editores. Há suspeitas de que esse pseudônimo seja de um homem ou, até mesmo, de um grupo de pessoas que escrevem sob um único nome. Para os milhões de fãs de seus romances, isso não importa muito. Pelo contrário. Parece que quanto maior o mistério por trás de Elena Ferrante, mais seus leitores parecem gostar. O que nos leva a perguntar: não seria justamente esse o efeito que a autora queria causar?

          Apesar de ter sido lançado no Brasil apenas em 2017, depois do sucesso da tetralogia napolitana, Um amor Incômodo é da década de 90, bem anterior ao sucesso de Ferrante e é seu primeiro romance. Foi transformado em filme em 1995 e alcançou algum sucesso no Festival de Cannes daquele ano.

          É narrado em primeira pessoa por Delia que volta a Nápoles, sua cidade natal, para enterrar a mãe que morreu em condições misteriosas. Amalia, sua mãe, morreu afogada e havia sido encontrada apenas de sutiã a poucos metros da praia. Era um sutiã caro, de uma marca famosa, muito diferente da lingerie que uma costureira simples como sua mãe costumava usar. Entender a morte de sua mãe é o que faz com que Delia faça uma longa viagem por sua infância.

          Uma curiosidade é que o romance foi dedicado pela Elena Ferrante justamente à sua mãe, o que causa ainda mais especulação se a própria Delia, personagem principal e narradora, não é a própria autora.

        Delia tem muitas lembranças confusas de seu passado. Coisas que ela de alguma forma resolveu ocultar de si mesma e, com a necessidade de entender a morte da mãe, esses fatos veem à tona e a fazem repensar se suas lembranças são verdadeiras ou foram deturpadas pelo tempo.

          Há um trecho de grande simbolismo quando a narradora resolve empreender essa viagem ao passado. Ela diz: Era algo que eu sempre soubera. Havia uma linha que eu não conseguia ultrapassar quando pensava em Amalia. Talvez eu estivesse ali para fazer isso. Assustada, apertei o botão com o número três, e o elevador deu um tranco barulhento. Rangendo, começou a descer em direção ao apartamento da minha mãe.

        Gosto muito dessa imagem de um elevador descendo, rangendo, que a narradora pega assustada e que vai em direção a suas lembranças. Percebam que até o número três é sugestivo, indica algo ou alguém mais em torno de Adelia e de sua mãe.

          Tanto em Um Amor Incômodo quanto na tetralogia napolitana, a cidade de Nápoles é um cenário forte que dá o tom exato à história. É possível imaginar os velhos prédios, as praças e ruelas escuras. A autora também se refere várias vezes ao dialeto napolitano que, em alguns momentos, se sobrepõe ao italiano. Todas essas referências fazem crer que Elena Ferrante seja napolitana.

            Um Amor Incômodo é um livro pequeno, aparentemente fácil de ler, mas que tem algumas camadas que precisam ser encontradas por isso requer uma leitura atenta aos simbolismos que não estão ali por acaso.

Vídeo-resenha: https://www.youtube.com/watch?v=tZzDx-bMO6g

FICHA TÉCNICA

Título Original – L’amore molesto

Edição Original – 1991

Edição utilizada nessa resenha – 2017

Editora Intrínseca – Rio de Janeiro

Número de Páginas - 174

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