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ZORBA, O GREGO

          Provavelmente, você já ouviu falar de duas importantes obras da literatura grega: a Odisseia e a Ilíada, ambas atribuídas a Homero. O mais óbvio seria começar por uma dessas obras de Homero, para estudarmos a literatura grega, mas nem sempre o mais óbvio é o mais indicado. Então escolhemos uma obra mais moderna, mas que vai nos ajudar a traçar um percurso mais interessante de leitura até chegar naquelas duas grandes obras.

         O livro escolhido é Zorba, O Grego, do escritor grego, Nikos Kasantzakis. Apesar de Kasantzakis não ser muito conhecido no Brasil , ele é um dos mais importantes escritores gregos de todos os tempos e foi considerado o principal escritor e filósofo grego do século XX. E, além de Zorba, escreveu outros livros essenciais como, por exemplo, O Cristo Recrucificado, A Última Tentação e O Pobre Homem de Deus, inspirado na vida de São Francisco de Assis.

         Kazantzakis nasceu na ilha de Creta, no finalzinho do século XIX e morreu em 1957. Teve uma vida muito movimentada, desde a infância, pois quando ele era criança Creta era dominada pelos turcos e, somente em 1908, foi anexada ao território grego. O escritor viveu muitas guerras como a guerra dos Balcãs, as duas guerras mundiais e a guerra civil espanhola. O autor se engajava nesses movimentos porque estava sempre inquieto buscando conhecer novas paisagens, novas culturas que dessem explicações ao seu espírito.

          Ele estudou Direito em Atenas e Filosofia em Paris Foi um crítico da religião porque tinha seu próprio conceito de Deus e, por isso, chegou a ser excomungado da religião católica. O próprio escritor se definia como uma alma selvagem.

          Zorba, o grego, sua obra mais conhecida, foi escrita em 1942 quando a Grécia lutava contra a ocupação nazista. E seu personagem mais famoso, foi inspirado em um Zorba real que era camponês e mineiro como o personagem. Kazantzakis conheceu Zorba que viria, inclusive, a ser seu amigo. Zorba, na verdade, era o que o escritor desejava ser, um espírito livre, o que nem sempre lhe era possível, sendo intelectual com muitos limites impostos pelo politicamente correto.

          A história é justamente o encontro de dois homens. Um intelectual e um rústico que vão trabalhar juntos em Creta, extraindo linhita. O intelectual é o narrador que, aos poucos, vai sendo conquistado por Alexis Zorba, um homem com pouco estudo, mas que conhece muito da vida, que vive o momento de forma plena, seja trabalhando, comendo, bebendo e se relacionando com mulheres, mas que também tem a sensibilidade para tocar o santuri, o instrumento grego, difícil de tocar.

          Zorba presta atenção a coisas e pessoas, como se as estivesse vendo pela primeira vez, e sempre se pergunta pela origem e a razão da existência dessas coisas. O narrador dizia que, ao ouvir Zorba, ele sentia renovar-se a virgindade do mundo. Todas as coisas desbotadas e cotidianas retomavam o brilho do primeiro dia, quando saíram das mãos de Deus.

          O intelectual narrador concluía: “Eu compreendia é que Zorba era o homem que eu buscava sem encontrar. Um coração vivo, uma boca voraz, uma grande alma bruta. O sentido das palavras amor, arte, beleza, pureza e paixão – esse trabalhador rude esclarecia para mim com as palavras mais singelas do homem.”

          No fundo,  o intelectual, praticamente um alter ego do escritor, queria ser mais parecido com Zorba. Um momento mágico da história e que também foi imortalizado no filme com Antony Queen no papel de Zorba, é a cena em que Zorba ensina seu amigo intelectual a dançar. Era como se naquele momento, os dois homens tão diferentes, pudessem ser um só.

          Um aviso. Quando você for ler, você vai perceber algumas falas sexistas, próprias dos homens rudes de Creta da década de 40, como dizer, por exemplo, que "mulher tem pouco cérebro". É preciso lembrar de que cada livro é fruto de seu tempo. Hoje em dia, se algum escritor for sexista e diminuir a mulher, tem sim de ser massacrado, mas nós não podemos deixar de ler livros importantes do passado porque eles trazem ideias que atualmente nós rechaçamos. O importante é ler, ver como aquelas sociedades eram organizadas, os erros que cometiam sejam frente à mulher, aos negros, aos homossexuais ou qualquer outra minoria e perceber que não podemos repetir os erros do passado, mas nunca deixar de ler livros que trazem questões e histórias universais, narradas de forma única e que, por isso, são tão importantes.

         Zorba, o grego é um livro perfeito para entrarmos na literatura grega porque o personagem que foi tão bem construído pelo autor, que consegue passar a essência, a paixão do povo grego pela vida.

            

Vídeo-resenha: https://www.youtube.com/watch?v=WHoGPyefHbw

FICHA TÉCNICA

Título Original – Zorba, o grego

Edição Original – 1942

Edição utilizada nessa resenha: 1983

Editora - Abril Cultural - SP

Páginas: 367

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